Nos últimos meses, o blog esteve parado, estacionário, dormente e isso por diversos motivos. O acúmulo de trabalho, entre muitos outros problemas, contribuíram para essa ampla pausa. Mas houve algo de bom nessa breve morte do blog: a possibilidade de aprofundar certas reflexões. Talvez a mais fundamental de todas surgiu da leitura do notável trabalho da pesquisadora Évanghélia Stead, La Chair du Livre. Ao final do século XIX, poetas, narradores, artistas, editores, críticos e leitores perceberam que mesmo o espaço em branco da página, que poderia a qualquer momento se transformar em um verdadeiro golfo do vazio, do nada, um deserto no qual as palavras se deslocariam como exploradores em um ambiente inóspito. Como bem escreveu Stead: "Imagens e estampas, dobraduras, capas e encadernações, ornamentos, grafismo e tipografia, até mesmo a tinta e as letras, os insetos que caminham através de um deserto de papel e que foram dotados de um sentido intelectual, poético e sensual."
Mas se os espaços em branco da página ganhavam essa nova conotação, o que não dizer de outros objetos, que por meio do design se aproximaram de uma forma ou de outra do livro como objetivo, transformando-se em possibilidades de construção narrativas e poéticas únicas, singulares. Essas novas formas materiais associadas ao livro que implementam processos narrativos e poéticos também estarão representadas aqui, na forma das usuais breves análises. Trata-se, portanto, de uma expansão, que nós seguimos de bom grado: o códice que se transmuta em outros objetos, oferecendo ricas e novas possibilidades de leitura. Mas isso não quer que abandonaremos nossos antigos métodos e objetos de análise – teremos, em breve, o retorno das entrevistas com autores contemporâneos. De qualquer forma, esperamos que nossos leitores aproveitem essa nova fase e que descubra, conosco, a amplitude feroz do livro. Imagens: edição em blu-ray do filme Scanners, de David Cronenberg, lançado pela Crtiterion, pop-up no interior do CD Konchuuki da banda de rock noite japonesa Merzbow e o livro combinatório Animalário Universal do Professor Revillod, de Javier Sáez Castán e Miguel Murugarren (edição portuguesa da Orfeu Negro).
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Alcebiades DinizArcana Bibliotheca Arquivos
January 2021
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