(O martírio de Santa Catarina, de Albrecht Dürer) As rodas do suplício se romperam com a explosão & morte dos carrascos & o céu se crispou & trovejou uma chuva de pedras, contudo o fogo terrestre se afastou de Santa Catarina, ela cuja pescoço estava lacerado pelo ferro & ainda assim findava. Mas há algo mais sobre essa imagem, ou melhor, está mais completamente escrito em conformidade com o eterno pelo que foi entalhado na madeira. A roda está ao centro, um pouco excêntrica, como se se tratasse do centro de um leque, que é completa embora não circular. E há uma manivela para mover a roda & essa roda é dupla & as duas metades giram em sentido inverso, da mesma forma que se abre um leque. As chamas fluem dessa rotação como a água de um moinho & os fragmentos do solo da colina se precipitam na direção delas, que persistem, & as árvores na parte superior estão em outro plano, dispostas horizontalmente, empilhadas, descendo da seção à direita, sobre uma nuvem & alimentam o giro da roda. A chuva que cai do céu desaba sobre os dois lados de um triângulo isósceles no qual as extremidades são a base: a base preenchida torna-se curva (a forma do pluviômetro) & cria o braço direito do carrasco, as vestes erguidas & a espada à direita, outro lado é coberto pelo braço esquerdo, que leva ao ar igualmente as vestes de acordo com a ventilação das aletas e da roda como se fosse um catavento & as duas orelhas foram um pentágono no qual a pandorga se inverte & a forma do triângulo é visível também, uma significação de Deus, o Pai de fogo que surge entre as nuvens pesadas. Acima é possível ver a cidade, sustentada pela roda, na qual há uma colina que desce desde o céu & que alcança seu ponto inferior onde a terra se converte nos carrascos mortos & as folhas ao redor da roda & há três níveis na imagem, significando cada um dos três mundos. A sinuosa colina é harmoniosa com as dobras da vestimenta & a bela linha dos músculos das pernas dobradas, que são as pernas de Dürer. Essas vestimentas & essas pernas são a cauda & a vestimenta de um grande Santo Decapitado que preenche a imagem, com a distância das ancas aos ombros do carrasco, do umbigo aos olhos de Catarina, do comprimento inferior até a linha do horizonte dos limites da colina. O pescoço dividido da santa termina de acordo com as arestas agudas dos raios que partem do homem alongado, nos prolongamentos dos traços que se adensam de modo indefinido, que são menos estocada e mais gládio. A cabeça & o cabelo enrolam-se na cidade em declive & nas árvores. E na direção do moinho da roda, em rotação nova. Alfred Jarry (Perhinderion, n. 02, junho de 1896) Acima, apresentamos, como uma introdução aos novos livros da Raphus Press, a tradução de um breve comentário de Alfred Jarry para a expressiva, tumultuada e apocalíptica gravura de Dürer. A primeira edição da nova série da Raphus, centrada em traduções, terá um trabalho de Jarry para sua outra revista imagética, L'Ymagier, além de uma introdução com um retrato/exegese imaginária.
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Alcebiades DinizArcana Bibliotheca Arquivos
January 2021
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