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Uma outra "Ruinenwerttheorie”

1/28/2021

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Albert Speer, o arquiteto que foi amigo pessoal de Adolf Hitler, elaborou nos anos 1930 uma “teoria do valor das ruínas”. Diante da visão dos imponentes monumentos erigidos pelo regime nazista (como o célebre Zeppelinfeld, projetado por ele mesmo), Speer teve uma visão de como seria aquele estádio imenso centenas, milhares de anos no futuro, quando o próprio Reich tivesse se esfacelado e tudo fosse decadência e ruína. Escreveu Speer: “Ele [o arquiteto] escolheu a pedra, que oferece todas as possibilidades disponíveis em termos de forma e permite a persistência da tradição – uma tradição que permanece para nós nos edifícios feitos de pedra, erigidos por nossos antepassados – para as futuras gerações graças à sua constância”.

Essa era a teoria fascista das ruínas, que pretendia encontrar nas pilhas de escombros um valor mítico, um ritual estático e perpétuo, além de tedioso. Mas Ruins, novo livro de Gaurav Monga (editado pela Desirepaths Publishers com bela capa de Anil Thambai, em que as sugestões do orgânico e inorgânico, do construído e do natural, são exploradas), nos oferece outra possibilidade de entendimento das ruínas – imprevisível, complexo, estimulante. Os escombros de Monga espalham-se por todos os cantos de nossa sociedade e mesmo as edificações mais novas, nas páginas de seu estranho livro, já são ruínas decadentes. A prosa de Monga é de sutileza infinita: mescla de percepção narrativa, memória vaga, reflexão aforística e meditação poética, escapa de todas as definições possíveis e aponta para rumos e desdobramentos insidiosos e de fato inovadores dentro da perspectiva cultural conhecida como neodecadentismo. Horizontes novos, explorados a partir de perspectivas pioneiras que ultrapassam até mesmo os princípios mais subversivos da psicogeografia.

Em diversos momentos de Ruins, Monga fala do prazer infantil de coletar fragmentos das pilhas de escombros, fartamente disponíveis nas grandes metrópoles, em constante construção/demolição até um ponto em que já não é possível identificar onde termina a ruína e começa o edifício novo. Esse é o prazer que o leitor poderá obter do livro de Gaurav Monga.
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